Será que temos ouvido de fato música, ou ela simplesmente se tornou mera trilha sonora dos nossos afazeres diários?
Não importa o ritmo, gênero ou banda, conseguimos parar pelo menos por um momento nosso cotidiano frenético para apreciar uma música? Prestar atenção na letra (se tiver), na entoação do intérprete, na atuação dos instrumentos, na própria poesia nela contida?
Sinceramente acredito que não.
Rádio, televisão, mp3, iPhone, internet e derivados revolucionaram o mundo da música (e não só ele obviamente). Compartilhar, divulgar e armazenar música ficou muito mais fácil e dinâmico. Ganhamos muito com isso. O problema é que como vivemos na sociedade do descartável, do efêmero e do excesso de informação, nossa atenção é fragmentada e de rápido desprendimento, afinal na corrida por nos manter atualizados nossos olhares ficam muitas vezes só na superfície; não se aprofundam em nada justamente porque “não” há tempo para se “perder” com informações, notícias e entretenimentos que em questão de minutos podem se tornar ultrapassados.
Assim acontece com a música, sendo os “hits do momento” um bom exemplo disso, pois cada vez mais são passageiros, vazios e pobres musicalmente. Claro, não se pode generalizar e não pretendo fazer um juízo de valor, porém, inevitavelmente vejo que a música em si mesma não é sentida em seu potencial de transformação e sublimação, tanto pelo compositor/intérprete quanto pelo ouvinte. Isto é, ou porque “não” temos tempo suficiente para apreciá-la, ou porque vivemos em um sistema por demais mercadológico e capEtalista (uma coisa não exclui a outra), a música passa a ser nossa “companhia” de caminhadas, de consultórios médicos, de lojas de conveniência, de restaurantes e barzinhos. Ironicamente há música por toda parte, mas ela acaba sendo um mero pano de fundo de nossas harmônicas (?) vidas.
Triste do pianista solitário, que para ganhar o pão de cada dia, vai tocando sua vida nos inóspitos shopping centers. Poucos são os que o enxergam, se ao menos o ouvissem...mas os lançamentos e promoções do dia ofuscam sua doce melodia.
PS: A animação francesa “O Ilusionista” (2010) nos faz pensar um pouco sobre isso...não especificamente sobre música, mas sobre as expressões artísticas e lúdicas em geral. Fica a dica!