terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Cristais

Tornaram-se cristais inquebráveis
Nenhuma lágrima foi suficiente para desaguar aquelas mágoas
Se olhar atentamente verá seu semblante refletido
Beleza sagaz de tão cristalino

Importar-se?... 
O eterno presente se encarrega de rememorá-las

domingo, 28 de outubro de 2012

Tarde de Domingo

Disse,
e por dizer se entristeceu.
Dos tristonhos olhos castanhos,
fez-se o pranto de um adeus.

O que morre antes mesmo de nascer
pouco fica na lembrança.
O que nasce antes mesmo de compreender
Inocência, esperança.

O que poderia ter sido não foi.
O que foi não poderia ter sido.
Não poderia...
mas foi.
Na verdade, só poderia ter sido o que foi. 


Tu és


Sou digna de ter um trabalho ou ele que me dignifica?
O que sou...meu trabalho que diz?
Horários, metas, resultados
Contratos, curriculum, salários
Decidem meu preço enquanto me pagam à prestação
Trabalho não remunerado mais parece caridade
Tudo tem seu preço
O vencedor é aquele que garante, no mínimo, o teu próprio sustento no fim do mês (sustenta-te a ti mesmo ou a tuas prisões?)
Feliz daquele que chega "vivo" até lá

"Ah! Que batalhador, foi ser alguém na vida!"
Estranho...pensei que "ser alguém" fosse uma condição já dada
Talvez, de fato, a auto-consciência de minha existência dependa do olhar do outro
Mas desde quando preciso de permissão para ser?
Eu só SOU se outrem me disser "tu és"...?
"Tu és" tua certidão de nascimento
"Tu és" teu RG, CPF
"Tu és" tua carteira de trabalho
teus diplomas
teu cartão de crédito
teu plano de saúde
teu atestado de óbito
"Tu és"...

Tu ESTÁS sendo catalogado nesse exato momento
É mais um número de estatísticas rotineiro
O famoso "Sorria!  Você está sendo filmado" é sarcasmo puro
Sua tradução bem poderia ser "Aceite! Você está sendo monitorado"
E somo nós que fiscalizamos uns aos outros
Controlar, enquadrar, rotular tornaram-se nossos prazeres diários prediletos
Sei que isso tudo faz parte de construções sociais
Mas onde está o reconhecimento de transformação?
Somos coniventes com as permanências
Na lei do "salve-se quem puder" o que sai vivo não vive...existe
Existe, dogmatiza, permanece
Meias palavras de senso comum já bastam para cair por terra o que 
de mais valioso o ser humano tanto se glorifica: a razão

Razão para mim é criticidade...pensamentos borbulhantes, 
em metamorfose mesmo
Mas talvez, muito provavelmente eu diria, o ser humano tenha deixado de se metamorfosear

Enquanto respostas- vomitadas em coro - forem mais relevantes que questionamentos, algo de muito nocivo terá a dita "civilidade" humana.

domingo, 8 de julho de 2012

Destino

Destino a mim preciosos sonhos,
que de tão precisos escapam-lhes da razão.
Destino a mim o que não pode ser dito,
pois palavras são escassas e ineficientes.
Destino a mim dos mais sublimes amores,
que me façam sentir viva!
Destino a mim o que há de leve no mundo,
o encanto inefável das profundezas do sem fim.
Destino a mim os rodopios do inesperado,
que despertam o gozo da esperança.

...
Mas o destino já não quis saber do suplício,
possui o dever de manter o que se está estabelecido.
Pouco importa se sofrerás.                                       
Ele cumpre ordens.
Ordens daquele que mal te olha nos olhos,
que não sabes do porque de teu sonhar.
"Ide em paz com teus devaneios" - uma voz sussurra           
pois deles só terá o gosto amargo de lembranças,                                 
desejos,
sonhos.
Destino (Sandman - Neil Gaiman)



sexta-feira, 8 de junho de 2012

Sonata de Outono

"É preciso aprender a viver. Eu treino todos os dias. Meu maior obstáculo é não saber quem sou. Vou tropeçando às cegas. Se alguém me amar do jeito que sou talvez eu finalmente me arrisque a olhar para mim mesma. Para mim, essa possibilidade é bem remota."

Filme: Sonata de Outono, de Ingmar Bergman.
Música: 2º Prelúdio de Chopin.


sexta-feira, 2 de março de 2012

Mais uma dose, por favor?

Soma que soma...perdida de tanto somar
A cada rodada uma dosagem mais forte
Vamos evitar a dor, a tristeza, a revolta
A felicidade está logo ali
logo
ali
logo...onde?
Dê-me soma!
Há televisões de toda espécie
Com a promessa de nos encontrarmos
mais perdidos ficamos
Nunca há o suficiente
Estamos anestesiados
"Amanhã há de ser melhor!"
"Fazer o que, não é mesmo?!"
A sensação de impotência passa rapidamente
Afinal, "você tudo pode naquele que te fortalece"
A fórmula da felicidade está ao alcance das mãos
Em leves prestações, digerimos seu gosto amargo
Soma
Consuma
Soma
Suma


Anja Stiegler


Para saber mais: http://zupi.com.br/site_zupi/view/fantasias_de_anja
Fica a dica: Admirável Mundo Novo - Aldous Huxley

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Pra não dizer que não tentei falar de amor

Em teus abraços me desfaço
na leveza do teu ser
O encontro do olhar
As mãos tímidas se esbarram
É pensado ou por acaso?
Encanto
Pranto
Canto
Do luar ao amanhecer
Acentua o abismo
Despede-se do que já foi,
ou seria do que nunca esteve?
Palavras caladas
mal compreendidas...
O que não é correspondido
só o tempo leva embora
Falar de amor é fácil,
incontáveis são as teorias
O difícil é sentir-se amado,
é amar sem ter explicação racional
Euforia, bem-estar, alegria
são apenas palavras inertes
Amor é explosão de sentimentos
Tudo junto e desconexo
Não escolhe o momento
Caos, loucura, ternura e sintonia
O efêmero eterniza-se na lembrança
Digo adeus a esse amor
e adormeço ao fim do dia.


Obra surrrealista da fotógrafa Lissy Elle 

Para saber mais: 

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Desligue seu piloto automático!

Os relacionamentos entre as pessoas atualmente me parecem distantes, mercantilizados e superficiais. As trocas de idéias, de críticas construtivas e de sinceras solidariedades são substituídas pelas trocas monetárias, como se essas fossem práticas inerentes da vivência humana. O “bem material” serve de instrumento e justificativa para preencher o vazio deixado por relações supérfluas e inconsistentes, de modo a construirmos cada vez mais um abismo entre nós mesmos. Então, esse “bem material” está mais para “mal material”, pois ele é a materialização de frustrações e, conseqüentemente, autodestruição. 

Agimos mecanicamente e perdemos oportunidades reais de aprendizado, pois o diálogo com o outro se dilui em curtas frases e pensamentos de senso comum.

O mais irônico de tudo isso é que ainda nos definimos como seres superiores. Que seres superiores são esses que não conseguem nem ao menos estabelecer um reflexão mais concreta, ativa e crítica da própria existência entre os seus “iguais”?

Fazer algo verdadeiramente humano está muito além do simples fato de termos polegares opositores e sermos animais bípedes e “racionais”.



Fica a dica: Waking Life, filme estadunidense do ano de 2001. 

"Passamos pela vida esbarrando uns nos outros, sempre no piloto automático, como formigas, não sendo solicitados a fazer nada de verdadeiramente humano. Pare. Siga. Ande aqui. Dirija ali. Ações voltadas apenas a sobrevivência. Toda comunicação servindo para manter ativa a colônia de formigas de um modo eficiente e civilizado. “O seu troco”, “Papel ou plástico?”, “Crédito ou débito?”, “Aceita ketchup?”. Não quero um canudo. Quero momentos humanos verdadeiros. Quero ver você. Quero que você me veja. Não quero abrir mão disso. Não quero ser uma formiga, entende?"